Universidade, democracia e transformação social

Na terça-feira, 11 de maio, participei do evento Universidade, Democracia e Transformação Social, organizado pelo curso de Serviço Social da Faculdade Estadual de Ciências Econômicas de Apucarana (FECEA). A Mesa-redonda foi coordenada pelo Prof. Valdir Anhucci, coordenador do curso de Serviço Social, e teve a participação do Prof. Evaristo Colmán (UEL).

Quando a democracia se reduz a mero procedimento de escolha dos candidatos aos postos-chave da burocracia universitária, é fundamental promover o debate sobre qual democracia e universidade queremos. É preciso desnaturalizar e rediscutir a universidade, os mecanismos de ascensão e controle das posições de poder dissimulados sob o discurso democrático. Como afirmam os organizadores: “Assim, a proposta é que a comunidade acadêmica (re)pense e comece a discutir, de forma ampla, democrática e politizada, os valores e as práticas que acabam sendo tomadas como naturais, sem nenhum questionamento”.

Pensar a universidade enquanto instituição capaz de contribuir para a transformação social implica refletir sobre a realidade cada vez mais determinada pela lógica competitiva e produtivista, mercantilizada e dominada por grupos internos que se digladiam para abocanhar a melhor fatia do “bolo” – os recursos públicos. E isto em nome da democracia e da defesa do caráter público. Repensar a universidade implica questionar a prática acadêmica que se pretende democrática, mas nega a democracia; impõe desnudar os processos de disputa e controle burocrático do poder acadêmico. Uma democracia restrita aos grupos internos organizados, que alija estudantes e funcionários, não merece tal qualificação.

A universidade reflete a sociedade que vivemos. É claro, portanto, que sua transformação interna depende fundamentalmente das mudanças que ocorrem na sociedade em geral. Não obstante, o campo acadêmico tem uma lógica própria e, na medida em que é composto por indivíduos e grupos com interesses divergentes, conflitos internos que pressionam na direção da conservação ou da transformação. Em outras palavras, há fatores contra-hegemônicos que desafiam o status quo no campus. São atitudes que inquietam o pensamento hegemônico e atentam para a dialética dos interesses e movimentos contraditórios na instituição universitária, e desta na relação com a sociedade. Iniciativas como a do Prof. Valdir Anhucci, e demais organizadores, demonstram as possibilidades contra-hegemônicas presentes na universidade.

Parabéns aos acadêmicos e colegas presentes. O amplo espaço do Anfiteatro Gralha Azul foi totalmente ocupado por estudantes e professores dos diversos cursos da FECEA. Não recordo de ter participado de um evento dessa magnitude. A presença massiva, aliada ao clima de cordialidade e respeito, próprio ao diálogo democrático proposto, acrescenta-se o debate profícuo a partir das questões levantadas pelos presentes. Foram várias as perguntas instigantes e inteligentes, mas quero destacar uma em especial: a do mais jovem participante do evento, o estudante de ensino fundamental João Marcos, que queria saber como a professora pode ser democrática. Sua fala nos alerta sobre a nossa responsabilidade diante das crianças e dos jovens e nos instiga a manter atitudes contra-hegemônicas que alimentem a esperança de que a universidade seja realmente democrática e que a democracia não seja apenas uma palavra restrita ao método de escolher os que ocuparão os cargos do poder universitário e/ou na sociedade em geral.

Parabéns a todos e meu sincero muito obrigado pelo convite e oportunidade de compartilhar este momento!

8 comentários sobre “Universidade, democracia e transformação social

  1. Olá Professor Ozaí

    Sou Ana Cristina professora do curso de Serviço Social da FECEA. Gostaria de parabenizá-lo imensamente pela sua participação brilhante no evento do dia 11/05. Você e o professor Evaristo proporcionaram a todos os presentes uma reflexão crítica e ampla sobre os os “percaussos conjunturais” que legitimam uma democracia meramente representativa e extritamente relacionada a lógica burguesa produtivista em nosso país. Gostaria de ressaltar sobre a importancia da abordagem que fez sobre a necessidade de pensarmos a democracia numa perspectiva dialética do micro para o macro e vise versa. Quando você aponta as relações em sala de aula, entre alunos e professores e entre colegas você nos chama a atenção para as possibilidades concretas de agirmos democraticamente e, a meu ver, não basta sonharmos com um horizonte distante, se faz necessário sim, a partir de movimentos internos, dentro das universidades e faculdades, elucidarmos o que pode efetivamente se configurar numa postura democrática, sem perdermos de vista, é claro, as implicações estruturais políticas e sociais presentes.

    Mais uma vez parabéns e que se amplie o debate…..

    Ana Cristina

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  2. Caro Ozaí

    Queria mais uma vez agradecer sua participação no debate realizado na FECEA. Penso que o debater instigou a comunidade acadêmica a (re)pensar em algumas práticas que eram tidas como naturalizadas, sem questionar o modelo vigente. Essa semana, após o debate, as aulas ganharam novas dimensões, pois muitos estudantes queriam saber mais sobre os impasses e as possibilidades de transformação social e a universidade. Na próxima quarta-feira, eu e o Valdir, faremos uma discussão com os estudantes de serviço social sobre o movimento estudantil e as (im)possibilidades de transformação. Enfim, quero agradecer pelas contribuições dadas no debate.
    Um abraço!
    Prof. André Ferro

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  3. Ozaí,
    muito bom que se volte a debater a Universidade! Parabéns pela sua participação!
    Vivemos num contexto de neoliberalismo, reestruturação produtiva com toyotismo e pior, por meio da mídia, empresas e instituições em geral (Universidade Pública entre elas), uma falta de conteúdo nas pessoas, de valores éticos, de projetos de vida que muitos nem percebem como se reproduz no cotidiano esse processo. Muitos estão anestesiados pelo espetáculo das mercadorias descartáveis (inclusive e principalmente as pessoas pulando de emprego à emprego precarizados, terceirizados ou grande maioria desempregada). A privatização aumenta e a Universidade Pública é a bola da vez. Relações de mando e obediência, de poder opressor através da hierarquia, conchavos políticos prevalece. Portanto, oportuno e necessario que haja debates. E nos debates, propostas. E nas propostas, ações coletivas decididas em conjunto, reproduzindo democracias concretas e mostrando aos incrédulos que é possivel mudar. Quem não quer mudanças nesse sentido são aqueles que utilizam poderes de forma opressiva e querem instituições como fonte de lucro pessoal.

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  4. As vezes eu até compreendo algumas opiniões da sociedade maringaense em relação à UEM, de que os estudantes paulistas roubam as vagas, e não trazem quase nenhum ganho à cidade (fora o material que ainda sim é esquecido), pois apesar de inserida no meio da cidade, poucas vezes é feito, evento, ou a estrutura é posta à disposição da sociedade, assim como suas pesquisas, e isso não ocorre só com a UEM, com todas as outras universidades, a estrutura aristocrática e positivista pouco tem de democrática livre, restringe o pensamento dos alunos ao ponto de só querer produzir para renome e por aí vaí.
    É difícil pedir democracia quando não se é democrática, é difícil reclamar que a sociedade não vai até a universidade quando a mesma se fecha em um mundinho para impedir que o seu graal chegue à todos.

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  5. Caro colega Ozaí,

    Quero dizer que foi grande sua contribuição e do Evaristo em nossa discussão.
    Também fiquei muito feliz com a quatidade de pessoas e principalmente com o interesse que muitos alunos tiverem em debater o assunto.
    Creio que esse é o caminho, construir espaços públicos capazes de manisfestar a votade coletiva das pessoas. Nesse sentido, temos que ampliar cada vez mais o debate, a fim de que possamos construir uma sociedade diferente.

    Um grande abraço e mais uma vez muito obrigado pela sua disponibilidade em contribuir com nosso debate.

    Um abraço

    Valdir

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  6. Caro Ozaí, teus comentários sobre a “democracia” universitária é alentador. Todavia, escapa-me ao juízo os motivos da apatia da intelectualidade, com raras exceções, diante da luta pelo poder efêmero propiciado por um cargo de reitor, diretor, coordenador e chefe de departamento. Por que será que as pessoas trocam rincípios por uma bolsa de produtividade, colocando sua prática acadêmica nos trilhos do produtivismo taylorista mitigado?
    Enfim, com sua permissão irei discutir com “meus” alunos a falsa democracia universiária, tomando como suporte suas reflexões.
    Saudaçõs universitáris.
    Máuri

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  7. Caro amigo Ozaí.
    Sobre a presença ativa da universidade na vida das pessoas , é algo benéfico, bem vindo.
    Tomara que se possa realmente democratizar o acesso à universidade de todos os formandos de nível médio deste País. Democratizar o acesso significa , democratizar a cultura e o conhecimento. Segundo o último senso do IBGE, parece que menos de 10% da população brasileira teve acesso a Universidade, ou seja, tem nível universitário. Precisamos urgente de interiorizar o desenvolvimento cultural e de conhecimentos técnicos, precisamos profissionalizar os nossos patrícios para que eles tenham uma vida digna, cheia de perspectivas de futuro próximo.

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  8. Estimado Antonio

    Cumprimentos

    Tua luz é intensa. Ainda o convidam para o debate e mais do que isso fico feliz que ainda exista o debate. Podemos não mudar ainda as instituições, mas se conseguirmos manter acessa a chama da discussão propositiva passamos a ter esperanças de que o ensino possa nos auxiliar nos processos de construção de uma sociedade também democratica, tanto no plano político quanto e sobretudo no economico.
    O saber efetivamente se constrói na sua exposição e consequente debate. As pessoas tem o direito de ter posição política e ideológica, somente ainda carecemos de transparência e também estamos enredados no cipoal burrocrático, que favorece uns em detrimento de uma pleiade de individuos.
    A Universidade brasileira a nosso ver esta desafiada a fazer um amplo debate interno e externo esse com a sociedade, que defina a quem ela serve, para que serve e principalmente o quanto ela pode servir na sociedade aos desvalidos.
    Um abraço
    Pedro
    Nós também obviamente temos também o papel e compromisso de tenciona-la propondo esses debates!

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