A quem servem os partidos políticos?

Os indivíduos atuam por interesse, isto é, esperam recompensas. É a probabilidade de ser recompensado que move a política. Mesmo os idealistas intentam alcançar algo, nem que seja o reconhecimento de que são missionários de um novo mundo. Porém, o determinante é a recompensa material – vide a trajetória e o deslumbramento da geração que ascendeu socialmente pela militância política. São os interesses que prevalecem.

A palavra interesse, de origem latina, significa “estar entre”, “no meio”, “participar”. Os partidos políticos são organizações voltadas essencialmente para os interesses, isto é, o estar entre os que têm acesso a determinados bens simbólicos e materiais inacessíveis à maioria dos governados. Uma das suas principais funções é propiciar a socialização dos cargos e do patrimônio público à minoria que compõe o sistema político, a “sociedade política”.

Os partidos almejam o poder; alguns imaginam fazer a revolução e conquistar o Estado. No imediato, isto se traduz na conquista do governo e de posições no aparato estatal. Ocorre, então, uma inversão: são as instituições do Estado burguês que conquistam os partidos. O objetivo se reduzir à garantia dos cargos no partido e no Estado, e, assim, ter o poder de multiplicar os pães, de transferir aos seguidores e discípulos as benesses da máquina do Estado – e ainda há quem lance mão do discurso de que é “exigência das bases” ou que foi “chamado a desempenhar a responsabilidade de participar do governo”, como se fosse um encargo. Numa realidade sócio-política em que o governante, desde a esfera municipal, tem o poder da “canetada”, isto é, pode indicar milhares de cargos de confiança, é de se imaginar a capacidade de comprometer o partido com a sua política. Eis o mistério nem sempre manifesto da política institucional.

Os partidos ideológicos imaginam romper com este esquema ao se proporem a revolucionar a política, isto é, a priorizarem a política extra-institucional e, no limite, a instrumentalizar a democracia qualificada como burguesa. Historicamente, porém, o resultado foi a instauração de ditaduras, da prevalência de uma nova classe social que age em nome do povo. O dilema dos partidos pretensamente revolucionários é que eles aceitam jogar o jogo e, assim, tão logo crescem em densidade eleitoral e organizativa tendem a descaracterizar a ideologia.

A radicalidade é proporcional à fragilidade eleitoral. Quanto menos tem a perder eleitoralmente, mais atua como a consciência crítica; quanto menor a força eleitoral, maior a vocação missionária e verborrágica. O projeto de poder o impele a ampliar inserção eleitoral e, portanto, a flexibilizar o programa e mensagem. Na medida em que disputam o Estado, estes partidos terminam por priorizar a estratégia da ocupação dos espaços em detrimento dos princípios, relegados à retórica revolucionária. E isto se dá na proporção das vitórias eleitorais.

O saber popular identifica bem a quem servem os partidos políticos. O tão falado povo empiricamente observa que, a despeito da retórica revolucionária, a vida permanece a mesma no dia seguinte às eleições. Ainda que compartilhe da alegria e/ou tristeza pela vitória e/ou derrota do partido “X” ou “Y”, logo retorna à dura realidade da luta pela sobrevivência, longe dos bastidores da política. E ainda que tenha depositado esperanças num determinado partido e seus eternos candidatos, logo também conclui que “são todos iguais”. Os indivíduos podem não compreender as teorias políticas, mas não são néscios; percebem claramente quem se locupleta com os partidos e mesmo os revolucionários são identificados aos profissionais da política.

17 comentários sobre “A quem servem os partidos políticos?

  1. Se, por um lado, a diversidade partidária, em termos de ideias e propostas de ações para a melhoria das condições de vida numa determinada sociedade, é sinal de que essa mesma sociedade está bem, democraticamente falando, por outro lado, tal diversidade, na prática, “esconde”, infelizmente, interesses completamente opostos ao afamado “interesse público”. Opostos porque mesquinhos, egoístas e nocívos à emancipação de uma sociedade, como a brasileira, por exemplo.

    É triste, mas infelizmente é a nossa histórica e dura realidade.

    Sempre foi assim e, salvo raras exceções, assim sempre tem sido : você usa de seu “poder” para “decidir” os rumos do país, transfere esse mesmo poder àqueles que se apresentam como “seus representantes” e, normalmente, esses mesmos “representantes”, uma vez eleitos, usurpam-nos o “poder” e, então, fecham-nos os canais da participação na tomada de decisões que envolvem nossas vidas.

    Infelizmente essa é a Democracia Brasileira.

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  2. Não queria ser redundante, mas a democracia é uma instituição burguesa, e como tal está a serviço de uma classe. Os partidos são somente um tranpulim para dar legitimidade a corrupção. Concordo com o Prof. Ozaí os revolucionários não sobrevivem ao poder, mudam o discurso em nome da GOVERNABILIDADE.

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  3. Olá Prof. Ozaí!
    O tema em discussão é provocante. Sugiro que os internautas leiam alguns autores que fazem interessantes reflexões sobre o tema: Plekanov e Carlos Matus. Plekanov parece-me que não saiu de moda, pela profundidade com o qual discute a relação do indivíduo com a história. E Matus em Teoria do Jogo Social, aborda com muita propriedade e clareza, essa relação do indivíduo e a organizções. Há também o legado de Ernesto Cheguevara que ressalta muito bem essa relação do indivíduo e a sua presunção de qurer ser maior que o coletivo de indivíduos. Indivíduo e o crescimento espiritual X a ambição por posições.
    Há no Brasil cerca de 80% da população que não participa e nem está organizada em nada: igrejas, partidos, sindicatos, associações clubes, etc… O espírito de cidadania e coletividade não existe. Porém o criticismo, simplista e o primarismo o denuncia. Bastou ocorrer um movimento organizado, são primeiros a fazer coro com as poderosas máquinas de comunicação de “massas” contra qualquer de forma de atuação consciente. Sugiro que esse importante tema debatido maos pfundamente sem a percepção dos comedore de “luz”, mais à luz da evolução da história das sociedades.

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  4. Prezado Senhor, Professor Ozaí
    sobre o Watergate do PT Dilma de espionar o candidato da oposição há um silêncio comprometedor da intelectualidade como se fosse um caso menor lembra-se que nixon renunciou por causa do watergate.

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  5. Para quem já escreveu a história das tendências, de um único partido guarda-chuva e tenta compreender os antagonismos e práticas que fizeram muitas dessas facções se distanciarem e rivalizarem, não deve ser fácil. Ainda mais que todos apresentam razões plausíveis para o que fizeram. Ser um pouco de cada uma delas, talvez tenha implicado em romper alguns laços. Principalmente os laços atados com ideais, militância e abnegação, ora desatados pela vaidade, oportunismo e decepções sentidas. Até mesmo o templo do saber, influenciado por todas as tendências que você tão bem analisa e manifesta contrariedade, mais desagrega do que agrega. O que mais temo é que o homem deixe de ser gregário e se torne apenas virtual, ou seja, uma presa real.

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  6. Professor Ozaí, Para uma resposta a sua Tese é necessário que estudemos a fundo o passado, através de editores confiáveis, e tiremos nossas próprias conclusões; – dentro de uma análise comparativa, criteriosa, dotada de bom-senso.

    Em 1930 tivemos no Brasil uma ditadura verdadeira. Getúlio fechou o Congresso cheio de terroristas nazis, aliens, Zionis, colocou ordem na República. Getúlio era um Otimista, Positivista; – mas as ordens dominantes sionistas não pararam com suas ambições. As estratégias foram seguidas.

    A migração no Brasil foi intensa, ficando sem controle quem era quem. Quem seria oportuno ocupar um cargo público para direcionar o Patrimônio Público sem ingerência e corrupção. Os evoluídos que nesta terra chegaram com conhecimento, agiram rápido; – calaram os bons, decretaram a guerra fria, calaram o cidadão com uma ditadura fabricada “não verdadeira” expropriaram, se capitalizaram, montaram as instituições financeiras atreladas a Washington, presentearam o cidadão com os vícios, vírus e falta de cultura pela privatização do ensino.

    O brasileiro seguiu calado, trabalhando, mantendo a Soberania Brasileira em pé; – sempre consciente da realidade, e de todos que nestas terras chegaram só e unicamente para se apropriar sem ao menos aceitarem suas própria etnias.

    Devemos amar nossa “Mãe Natureza” nos unirmos povo brasileiro! porque uma andorinha sozinha não faz verão.
    Abraços Fraternos,
    Marilda Oliveira

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  7. Lamentavelmente como estava comentando com um amigo meu, os partidos são “empresas”. Empreas que visam lucro, sua missão é conquistar o povo. A política nunca é voltada para o povo. A política é partidária, é de interesses…e de interesses privados, como nas organizações empresariais.

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  8. Caro professor Ozaí,

    Também o sinto depressivo neste pequeno artigo. É unilateral e – pior – não fecha. Fica a sensação: o que ia dizer mesmo o professor e parou de escrever abruptamente?
    Oportunamente, talvez, volte a este tema.

    Um abraço
    Ricardo Menezes

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  9. caros…
    se todos os seres passarem a perceber que a própria existência é política, que todos nós somos políticos por natureza histórica, haveriam mais debates e reflexões a cerca do mesmo.
    sou a favor de uma educação política já desde a infância, mas não com demagogias e com ligações partidárias, mas para sim ir familiarizando as crianças com um assunto que não é bicho papão.Assim, compreender a natureza humana seria muito mais fácil, porque o homem tem um compromisso ético com sua própria existência por ser um ser que está no mundo como transformador.
    Por isso os partidos políticos continuarão a sua própria servidão.

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  10. Professor, Ozaí, a situação do Brasil é a seguinte: uma vez em uma sala de uma universidade de Brasília, eu participava de um debate com o marketeiro de Joaquim Roriz (político local). Todos criticavam a falta de princípios eética dos governantes. então o marketeiro perguntou quem naquela sala desejava ser político. ninguém levantou a mão. Então, ele arrematou: “Todo mundo tem muitos argumentos para criticar, porém ninguém da classe média escalrecida está disposto a dar a cara pra bater”.

    Então, aproveito seu texto, para questionar a todos aqui qual a efetividade de nossas ações contra a corrupção e o intsrumentalismo da máquina pública?

    abraços!

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  11. Caro Ozaí,

    Seria o pensamento revolucionário e materialista intencional ou já faz parte da cultura política brasileira?
    Cada vez mais acredito que seja intencional, mas há muitos políticos que só vão seguindo o vento, não importando para que lado ele sopre.

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  12. SOBRE PARTIDOS – Há excelente reportagem que demonstra que os partidos são meros lobismos privados que hoje corrompem o processo eleitoral, principalmente tendo em vista o caixa de campanha e o gigantismo brasileiro. Pessoalmente acho que é preciso eliminar o privado entre a candidatura e o Estado. A candidatura é muito importante para passar por mãos lobistas e que custam muito no caso do Brasil. SOU PELO VOTO DISTRITAL MISTO DE BASE COMUNITÁRIA, visando contato direto da candidatura do eleitor com o Tribunal, sem “PRIVADOS NO CAMINHO” E MENOS AINDA CAIXAS DE CAMPANHA. AS BASES SERIAM COMUNITÁRIAS E PROPOMOS 100 eleitores por início.Só votaríamos em que conheceríamos diretamente olho no olho, com convivência mínima comunitária organizada diretamente pelos Tribunais. MAIS CARGOS INTELIGENTES PARA BRASILEIROS, MAIS CIDADANIA, MAIS DISTRIBUIÇÃO DE RENDA INTELIGENTE. Um sistema de cascata, só abrindo novidade no topo, quando poderia haver uma lista para o comando máximo. OS PARTIDOS CONTINUARIAM EXISTINDO, MAS SEM AS PRERROGATIVAS DE INTERMEDIAR A CANDIDATURA. OS QUE FUNCIONAMEM BEM EXISTIRIAM, OUTROS DESAPARECERIAM POR PERDEREM O EMPREGO SEM TRABALHO QUE HOJE POSSUEM.
    SHALOM
    P.S. Tenho muito interesse em palestrar sobre isto, e tem a haver com meu Projeto de Mestrado para Ciência Política.

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  13. Caro Professor – Sinto-o algo depressivo. Há coisas que parecem simplesmente lógicas, e não é fácil saber o momento em que temos a capacidade de ir mais longe. Dai a dogmatizar que pessoas acomodam-se no poder pelo poder acho que é algo demasiado. Certamente alguns, mas pessoalmente tenho certeza que não todos. São Paulo fala muito em “consciência” e tenho a convicção que muitos tem isto bem formado para desviar-se por mero comodismo. Há intelectuais que acham que não for igual a sua cabeça, necessariamente será corrupção. Isto é falso, pois estratégia, tática, hermenêutica, exegeses sempre comportam múltiplos caminhos.
    Certo que se anuncia o objetivo final com mais força quando se fala para uma platéia íntima, e quando o público é menos maduro, temos que usar palavras mais comuns. Espero que seu pessimismo melhore com sua teoria.
    APRENDENDO MUITO COM ESTE ESPAÇO.
    Saudações Sindicais e Sociológicas
    SHALOM
    José Carlos Costa Hashimoto

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  14. Estimado Amigo
    Saudações
    Lucidas tuas ponderações. Particularmente defendo o fim da obrigatoriedade do voto, obtendo o que paga impostos o direito cidadão de optar de participar do processo de delegação representativa. Na esteira desse fato cumpre observar que politica se faz também sem os partidos politicos, aliás preferencialmente sem estes, visto que, esse somente atrofiam as ações concretas dos movimentos sociais, dos trabalhadores e de todos excluídos. Preconizamos e defendemos intransigentemente a defesa dos movimentos livres da ingerência estatal, patronal, burrocratica e religiosa. Somente uma sociedade plural pode decidir seus rumos e não com o beneplácito de mandaletes a serviço da plutocracia estatal.
    Um abraço
    Pedro Vanzin Filho

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    • Professor,

      Política sempre foi um grande negócio e quem nela se adentra ou pactua ou sai. Ilustrando: uma aluna me comentou logo após eleições para deputados uns anos atrás, um certo médico do interior assumira seu novo posto aqui na capital do Ceará, e estava horrorizado com o comportamento dos seus pares, ele era o primeiro a chegar e muitas vezes, o único a ficar ali. Tal situação, o estava incomodando tanto que fez o seguinte comentário:”Sou um médico estudei tanto para ficar aqui?”O que será de mim após esse período?Onde estarão meus pacientes?” Não sei qual foi o desfecho dessa história, mas parece um lampejo de autocrítica, a descoberta da verdadeira missão.

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