10 de junho de 1940

Em 10 de junho de 1940, a Itália do fascista Benito Mussolini declara guerra à França e à Inglaterra; Paul Reynaud, primeiro-ministro francês, faz um apelo dramático de ajuda ao Presidente dos EUA, Franklin D. Roosevelt, o que indica o abandono da política de neutralidade; com a França ocupada pelas tropas alemães, a Assembleia Nacional Francesa decreta o fim da Terceira República Francesa e, no dia seguinte, instaura o governo de Vichy, com Philippe Pétain como chefe de Estado. Em 10 de junho de 1940, a Europa sangrava diante da guerra. No Brasil, estávamos em pleno Estado Novo, governo de Getúlio Vargas.

Em 10 de junho de 1940, num pequeno povoado chamado Fundão, município de Monteiro, no semiárido paraibano, nascia Margarida da Silva. Filha de João André da Silva e Genezia Maria da Conceição, não nasceu em hospital, mas com a ajuda de uma parteira. Como se diz no nordeste, ela vingou, sobreviveu às circunstâncias e condições sociais e econômicas próprias do povo simples e pobre que habita os rincões deste país.

Em 1963, casada com Julio Elias Silva e com seu primeiro filho com cerca de 8 meses de idade, ela mudou-se para Poção, no agreste pernambucano, limítrofe de São João do Tigre (PB) – município recém criado, ao qual passou a pertencer o povoado de Santa Maria (Fundão). Foi em Poção que nasceu o segundo filho e, em 1971, a filha. Com o esposo ausente, sempre em viagens ao sul e sudeste, coube a ela ser a chefe de família e trabalhar para alimentar a prole. A casa em que morou nesta cidade foi comprada com a venda de um cavalo e a peça de Renascença que fez. A Renascença é uma renda de origem europeia, produzida artesanalmente e comercializada no Brasil e exportada para o exterior. Foi com a renda renascença que Margarida da Silva sustentou a família.

Em 1972, ela vendeu a casinha comprada com tanto esforço e mudou-se para Paulo Afonso (BA). Seu marido trabalhava na CHESF (Companhia Hidroelétrica do São Francisco). A nova moradia não trouxe alegrias. Seus filhos só não passavam fome porque ela se dedicava ao trabalho com a Renascença. Sem poder contar com o marido que, viciado em baralho, perdia o salário nas mesas de jogo, e cansada dos maus tratos, ela decidiu deixá-lo. Em agosto de 1974, ela, corajosamente, viajou com os três filhos para a cidade de São Paulo, onde moravam seus pais e irmãos.

A vida em São Paulo não foi fácil. Decidida a criar os filhos sozinha, sofreu o preconceito por ser mulher sem marido. Inicialmente, a família recebeu-a bem, mas logo começaram os conflitos. Na prática, ela viu-se, como sempre, só. Batalhadora e trabalhadora, arrumou um emprego no Frigorífico Swift, em Santo André, ABC paulista. Deixou sua saúde neste trabalho. Por necessidade, trabalhava à noite e se culpava por deixar os filhos sós. Tinha saído do quintal do irmão, onde morava com os pais e mais três irmãos em dois cômodos (à noite, os filhos iam dormir nas casas dos tios que moravam nas proximidades). Cansada dessa vida, foi morar num barraco, num cortiço, que mal cabia uma mesa, fogão e cama de solteiro. Depois, mudou para um barraco maior no mesmo local. Seu sonho era morar numa casa de alvenaria, o que realizou meses depois.

Margarida da Silva dedicou a vida aos filhos, viveu por e para eles. Se os filhos lograram sobreviver e conquistar algo na vida, devem à persistência e ao amor dela. O sofrimento não foi em vão, ela deve orgulhar-se e considerar-se vitoriosa. Alfabetizada por esforço próprio, ela tem a sabedoria que os títulos acadêmicos não concedem. Legou valores e ensinamentos morais. Seu exemplo de vida orgulha filhos e netos. São suas raízes.

Em 10 de junho de 2010, Margarida da Silva completou 70 anos. Parabéns e muito obrigado por tudo!

18 comentários sobre “10 de junho de 1940

  1. D. Margarida, meus parabéns por sua belíssima vitória, alcançada após tantos sofrimentos e descriminações familiares. A senhora superou todas as dificuldades que a vida lhe impôs, se superou e alcançou seus objetivos. Sua vida deverá servir de exemplo e alento àquelas pessoas que enfrentam dificuldades semelhantes e àquelas que só sabem vencer na vida tirando proveito de seus semelhantes. Que Deus lhe Proteja em todas as sua lutas daqui em diante. ACeite meu abraço e seuja muito feliz.

    Adalberto
    Riacho das Almas-PE

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  2. Parabens pelo texto e pela homenagem a sua mãe. O texto muito lembrou a minha mãe que tambem faz aniversário no dia 11 de junho. Parabens Ozai por não se esquecer das suas raízes.

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  3. Parabens a D. Margarida que muito lembrou minha mãe, que tambem faz aniversário em 11 de junho. Parabens a quem fez a homenagem, pois é muito importante lembrar da importância de nossas raízes.

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  4. Meus parabéns a D. Margarida,como tantas margaridas nordestinas, sofridas e corajosas, representam o jardim de mulheres vituosoas.Também paraibana devemos lembra r Margarida Alves,líder dos camponeses nas Ligas Camponeas e morta pelos lacaios do latifundio. Como Dona Lindu, mãe do presidente, que levou os filhos para Sao Paulo e educou o lider internacional que resultou de sua coragem. Parabéns a ela e a todas as mulheres lutadoras nordestinas e brasileiras.

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  5. Ozai, este texto é lindo e comovente. no inicio nao sabia que era sua mae, fiquei esperando aparecer uma indicaçao, para descobrir quem era aqueloa mulheor heroica, corajosa e tao cheia de energia. alias, você mesmo nao diz. foi apenas nos comentarios acima que alguém fala nisso.
    parabéns por saber nos transmitir seu orgulho e gratidao a essa mae tao bonita.

    abraço,
    Regina

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  6. Ozaí não foge às suas origens e a dignifica, seguindo o0s passos de sua mãe. Coisa linda esta homenagem!

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  7. Texto lindo – Parabéns a toda a família e a D. Margarida, quero lhe dizer D. Margarida que com toda esta sua experiência a senhora é uma garota. Aproveite bem todos os momentos com seus filhos, netos etc…..

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  8. olá!
    bonita homenagem!
    vc foi além do mero presente material !
    vc deu um presente feito com as ferramentas que a força dela ajudou a forjar,seu conhecimento intelectual.
    como mãe que gosta de guardar coisas vindas dos filhos ,sugiro ,caso não tenha feito ainda , que imprima esse texto e entregue a ela .
    parabens !
    sempre surpreendendo pela sensibilidade cada dia mais apurada !
    é uma pena que isso signifique estarmos um pouco mais velhos.

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  9. Confesso que estou limpando os olhos!
    Essa dissertação humana, sincera na essência, me fez lembrar a Dona Zina. Filha mais nova de sete irmãos da guerreira Dona Antonia (finada), que sempre levou nas costas a responsabilidade de trazer o pão para o suprimento da prole. Por ser a mais nova entre os irmão, Zina não viu o sofrimento maior, já que, quando criança o pai (avô Antonio) deixa-os para migrar para as bandas da capital (SP), mesmo assim desfrutou do sofrimento por igual com seus irmãos. Josina, o nome de cartório, com 16 anos migra junto com a família para Rio Claro (SP), com propostas de trabalho para tentar uma vida diferentemente da que levava. A jovem amadurece instantaneamente quando, aos vinte anos de idade, tem a noticia da gravidez; junto desse evento da natureza, no ano de 1982, o Brasil estava mirando sua “redemocratização” e acontecia na Espanha a 12° Copa do Mundo, com “a seleção” comandada por Telê Santana. Nasce seu filho em meios a julgamentos morais, pois sua forma de família não tinha um dos elementos principais, o pai; Dona Zina não tinha tempo para romancear sua vida, sai a procura de trabalho, já que, as bocas dobraram. Cozinheira de primeira linha se estabelece nas casas de “madames” e logo constrói uma casa de 2 cômodos na periferia da cidade, e ali se formava nosso lar.
    De lá para cá Zina é mais uma pessoa com a mesma realidades vividas como a maioria dos povos oprimidos do mundo: humilhações e alegrias vividas para sustentar seus filhos, que mais tarde vão ser quatro e não baixando a cabeça para tais sofrimentos. Dona Zina hoje com seus 47 anos se sente orgulhosa de ter criados seus filhos (Alex, Edmilson, Érica e Eliana) e ter mostrado que nossos problemas são solucionados por nós mesmos.
    Ozaí me alegra muito ler essas histórias parecidas com muitas, já diria o sensível Belchior na fotografia 3X4: “pela dor descobri o poder da alegria.” Esse orgulho batalhador da Dona Margarida e da Dona Zina só me faz querer viver, viver à cada dia para propor uma condição digna para essa classe que a muito tempo sofre.
    Seu texto me trouxe alegria! Obrigado por dividir sua história com a gente!
    Um abraço professor, e que “a Terra nos seja leve!”
    Alex Willian

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  10. Que lindo texto pai!
    Uma bela homenagem!
    Com ctza nossa vozinha é um exemplo de vida, luta e conquistas.
    E depois de todo este desgaste, ainda tah interona hein! rsrsrsrsrs…

    Parabéns pra nossa vozinha!
    Amooooo

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  11. minha vó!!!! lutadora e vitoriosa. Graças a ela estamos aqui hoje. com toda certeza ela é um exemplo de vida para todos. Orgulho para nós netos!!!! ELA MERECE TUDO ISSO E MUITO MAIS!!!

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  12. Antonio
    Saudações
    Cumprimentos a Senhora sua mãe. Fico feliz que tenhas elaborado esse pequeno texto. Retrata a vida e a realidade de milhões de brasileiros. O destaque a ser considerado, é que a labuta e o sofrimento das mulheres e crianças é maior. Mesmo assim a grande maioria se não supera todas as dificuldades, faz frente a todas elas, faça chuva ou faça sol, seja quente ou seja frio. Sina, não acredito, é a luta dos excluídos para sobreviver e vencer.
    Um abraço extensivo a todos os que te são caros!
    Pedro Vanzin Filho

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  13. Bela forma de homenagear sua mãe Ozaí. Parabéns por reconhecer como importantes os valores herdados. São esses que dão qualidade à sua existência e credibilidade nas corajosas reflexões
    que compartilha conosco.

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