Sacralização da política, profanação da religião

Do ponto de vista religioso, sagrado e profano são opostos. Porém, tal oposição não ocorre de uma maneira dicotômica na qual os pólos se excluem; sagrado e profano se relacionam, se complementam. A religião diz respeito ao sagrado e sua relação com o profano é mediada pelo ritual. As instituições religiosas são responsáveis por esta mediação; é preponderantemente nelas e através e delas que os fiéis adentram no mundo sagrado. A experiência do sagrado pressupõe o culto, personagens específicos imbuídos de sacralidade, determinados lugares e tempo. No mundo moderno, as igrejas concentram estas características e se confirmam como instituições que administram os bens simbólicos religiosos, isto é, o sagrado. É no espaço e tempo destas instituições, com seus cultos específicos, pastores, sacerdotes etc., isto é, indivíduos legitimados pela instituição, que os fiéis vivenciam o sagrado.

A experiência do sagrado pressupõe a elevação do eu para além do mundo profano. Os homens e mulheres, numa mescla de terror, submissão e esperança, reconhecem no sagrado uma força superior capaz de lhes socorrer. As concepções de mundo predominantes se alimentam deste teor religioso: o sucesso e o fracasso, a bonança e as calamidades, a vida e morte, se alimentam dos fundamentos referentes ao sagrado. Este surge como o refúgio humano à realidade opressiva e miserável do mundo profano. Em sua angústia existencial, homens e mulheres buscam o conforto do sagrado e, ao mesmo tempo, o temem. Os humanos vivem simultaneamente entre o terror da punição – de arder no mármore do inferno – e a esperança de que a divindade o recompense – na terra e no céu.

A política diz respeito ao mundo profano, ao mundo comum. A modernidade afirmou categoricamente a sua autonomia diante da religião. Se no mundo medieval a religiosidade, instituições religiosas e organização política e social se confundiam, isto é, poder espiritual e poder temporal se mesclavam e determinavam os destinos dos indivíduos, a modernidade significa a possibilidade de separação entre Igreja e Estado e, neste sentido, da relativa autonomia de ambos na sociedade. A crescente secularização consolidou este processo. Contudo, à maneira da relação entre o sagrado e o profano, também a secularização não expressa uma contradição absoluta com a religião. Esta permanece forte e influente, seus preceitos morais e religiosos, bem como, o poder dos seus sacerdotes e da sua organização, não pode ser simplesmente descartados pelo poder do Estado. De certa forma, o poder espiritual também se reveste de poder temporal, na medida em que tem influência real sobre o mundo da política.

Se o mundo profano (comum) se vincula à política e as igrejas são, por excelência, os espaços de manifestação do sagrado, não há um muro intransponível entre eles. Com efeito, o mundo profano da política se reveste, em determinados casos, de sacralidade; e, por sua vez, o mundo sagrado vinculado às instituições religiosas revela, sob certas circunstâncias, manifestações profanas. Observe-se, por exemplo, como a política gera os “profetas” prenhes de carisma e, à maneira religiosa, constitui um grupo de seguidores (“discípulos”). Observemos ainda como, em determinados contextos históricos, ideologias seculares se manifestam religiosamente, com a presença de determinados “ritos” e o culto à personalidade. A razão produziu um novo crente que tem fé na ciência e também uma nova crença amparada na esperança utópica da construção do paraíso na terra – eis uma das funções principais das ideologias seculares críticas à sociedade moderna capitalista.

20 comentários sobre “Sacralização da política, profanação da religião

  1. 1. A teologia católica foi, historicamente, a primeira ciência que, fora do domínio estritamente formal, se organizou como um edifício lógico-dedutivo integral, fornecendo assim o modelo para todas as demais ciências, que em vão se esforçam até hoje para copiá-lo. É verdade que para isso ela contou com o aporte do precedente aristotélico, mas Aristóteles, pelo próprio caráter fragmentário dos seus escritos, antes sugeriu essa possibilidade do que a realizou materialmente, cabendo este mérito, sem sombra de dúvida, à teologia católica.

    2. Portanto, essa teologia não pode ser vista como uma tentativa de “conciliar” a fé com uma razão científica que até então não existia e que ela própria estava criando no ato mesmo de constituir-se. Entender a obra dos autores das Sumas medievais como esforços no sentido dessa conciliação é projetar sobre ela, retroativamente, uma visão extemporânea.

    3. Uma vez compreendida a identidade de suas estruturas lógico-formais, a única diferença substantiva que pode restar entre a teologia e as demais ciências, sob o ponto de vista da sua respectiva cientificidade, é que a teologia aceita entre suas premissas os dados da fé, enquanto as demais ciências aceitam somente os dados dos sentidos confirmados experimentalmente. Mas essa diferença é antes um estereótipo midiático do que um fato da realidade. De um lado, a função dos dados da fé no edifício teológico resume-se à da confiabilidade do testemunho – o testemunho dos evangelistas, dos Apóstolos e do próprio Nosso Senhor Jesus Cristo. De outro, não existe nenhuma “demonstração experimental” que também não se baseie, em última análise, em testemunhos convencionalmente admitidos como confiáveis – o testemunho das máquinas e equipamentos, do técnico que os manipula e de toda uma complexa cadeia de transmissão que inclui até mesmo a variável da subjetividade pessoal. Passou o tempo em que se imaginava o “fato científico” como a própria voz da realidade. Hoje sabe-se, e a nenhum teórico da ciência com um mínimo de idoneidade ocorreria negá-lo, que a “experiência científica” é apenas um elemento ou aspecto da formação do testemunho, e não há nenhuma, absolutamente nenhuma razão para supor que o testemunho de profissionais envolvidos numa constante disputa de posições, verbas e prestígios seja, a priori, mais confiável que o dos autores e personagens dos quatro Evangelhos. Nesse sentido, a diferença de credibilidade entre a teologia e as demais ciências se reduz a zero.

    4. Assim sendo, o confronto de “fé” e “razão” é menos um debate proveitoso do que um equívoco retroativo nascido da concepção kantiana, inteiramente gratuita aliás, da fé como ato arbitrário da vontade.

    Filósofo Olavo de Carvalho

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  2. Duas questões interessantes abordadas por dois comentaristas sobre este assunto em tela: a srª Regina, sobre a palavra e, o sr. Jeferson, a respeito de misticismo.
    Ao perguntar como surge o sagrado e respondendo ao mesmo tempo que seria a “palavra humana”, ela origina novos questionamentos feitos pela própria autora. Curiosamente as perguntas sem respostas, o desconhecido, o inexplicável, torna-se sagrado por si só. Acredito que um compositor de músicas, um pintor de quadros, um autor de livros, um poeta, um cantor, um orador, uma excelente dançarina, enfim, um ser humano que se notabiliza dos demais através da arte, se aproxima do significado do sagrado, do inatingível, mas apenas se aproxima, pois a sua força espiritual libera a sua vontade e determinação à criatividade, à liberação de sua imaginação e, de certa forma, demonstra a sua expansão e capacidade que a maioria das pessoas não tem. Não estaria na palavra a definição do sagrado, mas o que a imaginação não pode conceber, portanto, expressão alguma iria esclarecê-lo. Resta-nos o respeito e a reverência, tão somente, onde a verdade e a mentira deverão viver juntas para sempre, sem que saibamos se é a verdade falsa ou a mentira verdadeira.
    Exemplifico: existe vida após a morte?
    Existe o céu e o inferno?
    Existe Deus?
    Existe o diabo?
    Certamente algumas pessoas irão responder essas perguntas, mesmo que seja sim ou não, mas sem a capacidade devida de efetivamente definirem essas questões. Então, não encontraremos nas palavras as definições que procuramos para o sagrado, pois mente alguma não poderia esclarecer o desconhecido, a incerteza, a dúvida.
    Mas o Sr. Jeferson se utiliza do misticismo para definir o mal, simbolizando-o através da figura do diabo.
    Um nome que dá a entender o que é o profano, uma palavra, enfim, o demônio.
    Ora, se a palavra não define o sagrado, certamente não conseguirá explicar o profano, ou bastaria que para ambas questões citássemos como exemplo o ser humano, que encerraria em si mesmo o sagrado e o profano, mas isso seria simplório, e não penso que seria a resposta correta para o tema proposto pelo professor Ozaí.
    O importante é que a diversidade de comentários acima expostos e todos diferentes são uma demonstração do que eu quero dizer, ou seja, não encontraremos explicações convincentes à elucidação do sagrado e do profano isoladamente.
    Como está sendo discutido a política e a religião como veículos da sacralização e do profano respectivamente, temos um agente poderoso para dizer que religião e política tanto são isso quanto aquilo, o homem.
    Os interesses e as conveniências pessoais sobrepujam ainda as nossas indefinições ou receios ou, principalmente, o que desconhecemos.
    Se a religião não traz o conforto e a segurança almejados busca-se na política; se a política não trouxe as compensações materiais e pessoais que se queria tenta-se encontrá-las na religião.
    Uma certeza existe:
    Jamais a política e a religião servirão como exemplos de sagrado, mas serão modelos do que vem a ser profano porque subvertem a consciência e deturpam a mente do ser humano, determinando que fiquemos à mercê das circunstâncias, das ocasiões, do inesperado.
    A fragilidade do ser humano deveria ser sagrada, mas não lhe serve como alicerce às dificuldades e armadilhas da vida, muito menos proteger-lhe dos outros, no entanto, as nossas fraquezas são vistas como profanas e os poderes que temos, mesmo que efêmeros, estão sendo enaltecidos, sacralizados.
    Se o poeta disse no passado que a vida era uma metáfora, humildemente eu digo que a nossa existência é um paradoxo.

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    • Só uma pergunta caro Francisco, já procurou saber sobre possessões? Sobre milagres? Já visitou um centro espírita e estudou seus fenômenos?
      Não significa que por que não podemos provar pelo método científico, elas não existam.

      Aliás você sabia que a matéria não existe? Como explicar que energia gera massa? E a partir do nada?

      Sobre suas perguntas:
      existe vida após a morte? Já procurou ler sobre os diversos relatos, livros e evidências sobre a consciência da imortalidade?

      Existe o céu e o inferno? Essa é uma questão de fé, mas se existe Jesus Cristo filho de Deus, sim existe.

      Aliás, não sei se você sabe, mas os evangelhos são os livros mais antigos da humanidade, a moral Cristã é o que sustenta a moralidade da sociedade, não existe outra moral meu caro…não existe outra ética melhor…pode procurar…

      Existe Deus? São Tomás de Aquino já provou por A + B que Deus é necessário. E de 5 formas. Pode tentar refutá-las se quiser…Até hoje ninguém conseguiu…

      Existe o diabo? Mesma questão que respondi com Cristo.

      Misturar o objetivo da política com o objetivo da religião, está errado meu caro.

      O objetivo da existência da religião é responder a três perguntas fundamentais as quais a política nada tem a ver.
      1º conceito de absoluto = Deus
      2º conceito de justiça = justiça divina, se somos pecadores merecemos pagar pelo pecado cometido, é uma consequência. Os ensinamentos de Cristo servem para nos livrar de cometê-los.
      3º conceito de morte = se existe consciência fora do cérebro logo deve existir vida fora do físico e material.

      http://assinantes.luizgonzagadecarvalho.com/gravacoes-de-aulas/religioes-do-mundo-i/

      Espero que você investigue essas questões a fundo…

      Saudações!

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      • Caro Jefferson,

        obrigado por ler e comentar o blog.
        Se vc e o Francisco intentarem aprofundar o debate, sugiro que o façam por emails pessoais e evitem o que já ocorreu dias atrás em relação a outro tema. Nada contra o debate, muito pelo contrário. Apenas considero que há situações em que é mais apropriado a troca direta de emails entre os diretamente envolvidos.

        Agradeço também ao Francisco por sempre ler e contribuir com este blog e espero a compreensão de ambos.

        Abraços e tudo de bom,

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  3. Muito interessante sua colocação professor!

    Existe sim essa mistura e infelizmente.
    Mas, para quem é Teísta e tem fé em Cristo. O Diabo existe não só para destruir os que estão em pecado, mas para principalmente destruir a igreja de dentro para fora.

    Acabando com a moral da igreja ela será destruída e uma coisa é bem clara, quando o senhor coloca: “A razão produziu um novo crente que tem fé na ciência e também uma nova crença amparada na esperança utópica da construção do paraíso na terra – eis uma das “funções” principais das ideologias seculares críticas à sociedade moderna capitalista.”

    O comunismo na prática sempre perseguiu e tentou desmoralizar as religiões, desde antes até de Marx, Gramsci, Stalin, etc. até os dias de hoje. Pois sabem que a religião ( a verdadeira e honesta) é base de uma sociedade com moral e valores!

    A sociedade americana é um exemplo, que a cada dia se corroe pelos seus líderes que corrompem sua nação e as nações no mundo todo. Além de financiar o comunismo ditatorial.

    Só a fé em Cristo e a busca incansável da verdade pode nos salvar de cair nas armadilhas da sociedade mentirosa dos dias de hoje!
    Onde se tem muita propaganda e pouca honestidade!

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    • Então. O fato é que a Igreja se apropriou da mercadoria chamada deus. E mais: constituiu um Estado para isto, que é o Estado do Vaticano com assento na ONU,. O papa é chefe de Estado, também. E o mais interessante é que Cristo não tinha religião nenhuma. Nem mesmo a religião judaica era professada por ele, que alías chamava os judeus de víboras…Claro, muito menos ele era católico ou protestante. IGREJA É UMA INVENÇÃO HUMANA, tal como o é também a idéia de um deus todo-poderoso. Quem duvioda, é por que não cresceu o suficiente para perder a onipotência dos bebês, que tudo conseguem sem nenhum esforço. O princípio de realidade ainda não chegou na mente dessa gente, e portanto eles se mantêm numa confortável ignorância. Aliás “Quem quer conhecer, pergunta; e quem é crente, nada pergunta “.

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  4. Prezado Antônio Zenivaldo Coelho, temos todo o direito de expressar nossos pensamentos, mesmo disparates como tu pronunciaste atribuindo ao homem branco caucasiano “a origem de todo o mal sobre a face da terra”.
    Um absurdo, além de de demonstrar um preconceito odioso e desconhecimento total sobre a história da humanidade.
    Mas este blog é democrático, e essas opiniões desconexas e inoportunas fazem parte do seu contexto, mas também devem ouvir o contraditório, a crítica, pois a liberdade de expressão vale para ambos os lados.
    E o que tu disseste nada tem a ver com o assunto proposto, além de teres esquecido que o próprio nihilismo que tu muito mal o defines, serve exatamente para esclarecer o tua opinião tão infundada, justamente “quando pela crítica e desmascaramento nos revela a abissal ausência de cada fundamento, verdade, critério absoluto e universal e, portanto, convoca-nos diante de nossa própria liberdade e responsabilidade, agora não mais garantidas, nem sufocadas ou controladas por nada”.
    Portanto, Antônio, tu precisas te orientar, e sugiro exatamente o estudo do nihilismo para tu chegares à conclusão sobre os teus pensamentos tão obtusos e preconceituosos.

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  5. faltou um final indispensavel ao meu comentario, que ficou incompleto:
    quer esse profeta, lider, santo, seja um louco, um fanatico ou alguém que quer responder ao que é mais premente nas necessidades ou desejo das pessoas, acontece dele ser seguido.
    sera que é so depois da historia terminada que se pode separar verdades e mentiras?
    ai fica a pergunta que faltava

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  6. Meu caro Ozaí, excelente tua visão, sinto ainda que caminha nos primeiros passos de uma grande discussão. Parabéns pela abertura a esse diálogo, o deste tema pertinente.
    forte abraço
    Cyro Laurenza

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  7. Igrejas e políticos sempre estiveram de mãos dadas. Um papa de nome Clemente se juntou ao rei da França para roubar dos templários. Tanto o papa quanto o rei precisavam de dinheiro e a solução foi a igreja excomungar os templários. Isso feito os bens destes foram confiscados e repartidos.

    A história das religiões é uma história de assassinatos, perseguições e condenações. O banco do Vaticano lavava o dinheiro da máfia. Outras igrejas não fizeram tanto mal quanto a católica porque são menores e menos poderosas.

    Política e religião estão ligadas umbilicalmente. A história dos crimes da igreja dã um livro de muitas páginas e volumes. Mas uma instituição poderosa como a Santa Madre Igreja Católica não vai cometer crime pequeno. Isso é coisa de bandido pé de chinelo.

    Mas tem o outro lado da moeda. A Basílica de São Pedro é belíssima, a religião serviu de inspiração e apoio para obras primas de Leonardo da Vinci, Rafael, Handel, Bach, Mozart, Michelangelo, etc. E é isso que conta.

    E o fiel, que precisa das muletas da religião, só vè a face externa das coisas. E como o que vê lhe agrada e conforta, assim ele vai levando a vida.

    Alfredo Pereira dos Santos

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  8. perguntas suscitadas: o que é que cria o sagrado? a palavra humana, creio. objetos, pinturas, tudo que se supoe representar o sagrado é legitimado por uma palavra, que ordena ritos, cria obras. ao criar uma obra de arte toca-se no sagrado? ao compor ou ouvir uma musica “sublime”, aproxima-se do sagrado?
    e o homem que fala em nome de Deus, o que é? que fogo é esse que permite a alguns se fazer ouvir ou seguir por multidoes, que acreditam que ele os representa quer frente ao divino, quer frente a eles mesmos?
    existe realmente um fenômeno puramente artistico ou religioso ou politico, que faz com que multidoes acreditem, sigam ou se entusiasmem por uma palavra ou outra manifestaçao ? ou isso so ocorre quando uma representaçao capta radicalmente o que esta no ar, nos problemas, nas tensoes sociais e as expressa tanto na sua formulaçao quanto no que carrega e expressa das preocupaçoes de seus contemporâneos?
    ai ficam minhas interrogaçoes para você responder num proximo blog.
    um abraço.

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  9. Parabéns Ozaí, pelo artigo. Confesso, esperava que você fosse além nessa que é uma questão extremamente polêmica. No entanto, nos oportuniza a complementar com nossas experiências sagradas e profanas. Somos seres incompletos, parafraseando Freud e as diversas instituições dessa nossa vida moderna tentam barganhar espaço em nossa vida, no sentido de preencher essa incompletude. Dentre as várias instituições que estão no páreo, ressalto: a religião e o consumismo. Ontem mesmo li, num dos periódicos daqui da minha cidade que, não diferente das igrejas, os shoppings se multiplicam. Diz a manchete da gazeta que entre 35 e 40 centros de compras são inaugurados por ano no Brasil e a previsão é a expansão continuar, pelo menos até 2013. (Aqui, por exemplo, a cidade que possue um pequena classe abastada, somada à nova classe média – fruto do incremento de renda de uma pequena parcela da população pobre, mas que AINDA vive na base da pirâmide -, vive um boom dos shoppings. Digo AINDA vive pois essa possibilidade de acesso a bens de consumo que outrora essa população não tinha acesso, não lhe alterou a qualidade de vida. Vemos, não com muita frequência, uma catador de papelão com aparelho de telefonia celular. No entanto, ele continua sendo um catador de papelão.)
    Voltando, as igrejas também se multiplicam, a cada esquina, de todas as formas arquitetônicas, pequenas, médias , grandes e monumentais. Às vezes, fico a pensar se as igrejas não estão se multiplicando também porque a população está cada vez mais imersa no mundo considerado profano do consumismo, que necessita expurgar seus pecados e justificar a sua riqueza através da devoção e da submissão. O dízimo, a caridade e o assistencialismo cumprem um papel importantíssimo nesse processo de desopressão da consciência. Faz com que a classe média mais abastada e consumista consiga colocar sua cabeça no travesseiro – de penas de ganso – e dormir sem a menor culpa.
    Entretanto, a classe mais baixa também é alvo da multiplicação das igrejas que estão a preencher um vazio muito mais profundo e não menos grave, o vazio deixado pela incompetência do Estado no cumprimento dos Direitos Sociais e na manutenção do “estado de bem estar social”, o tal do Welfare State. Tentam buscar suas graças – emprego, pagamento de dívidas (geradas pelo consumismo e pela alta do crédito), cura de doenças (leia-se falta de assistência médica de qualidade), proteção (leia-se segurança pública), casa própria, aposentadoria, etc; nas mãos dos FALSOS PROFETAS mencionados pelo colega Francisco Bendl no primeiro comentário. Tentam se libertar das mazelas sociais rezando, orando, suplicando a uma pseudoforça sagrada. Convenhamos, não é isso que o povo vem fazendo nas eleições, uma súplica pela honestidade, uma prece pela ética. Entregam-lhe seu voto e à DEUS também!

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  10. QUERIDO PROFESSOR OBRIGADO
    ESTOU CADA VEZ MAIS CONVENCIDO DE QUE A ORIDEM DE TODO O MAL SOBRE A FACE DA TERRA É O SER HUMANO CAUCASIANO BRANCO OCIDENTAL GÊNERO MASCULINO TIPO JOHN WANE QUE DIZIMOUOS POVOS INDÍGENAS ESCRAVIZOU OS NEGROS FEZ DUAS GUERRAS MUNDIAIS SENDO QUE SEGUNDA FOI NUCLEAR.ALÉM DO MAIS ATUALMENTE SE VÊ NOVAMENTE RESTABELECIMENTO DE IDEOLOGIAS COMO NIHILLISMO E OUTRAS DOUTRINAS EGOÍSTAS AS VEZES ATÉ COM UMA BOA CARA COMO OBAMA PARA ENGANAR OS TROUXAS.ah sem falar na destruição do planteta.

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  11. O conceito de que a política não deve se misturar à religião sempre foi para mim hipócrita, cínico e imoral.
    Ora, se a política fosse bem conduzida, isto é, com honestidade, honradez, princípios e propósitos voltados ao bem do país e de sua população, certamente ela estaria de mãos dadas com quaisquer preceitos religiosos, fosse este crente pertencente a qualquer religião.
    Mas a política não é assim, pelo menos a brasileira. Ela é simplesmente tudo aquilo que não presta, e não estou sendo radical, mas apenas realista. Em tese, a religião é diferente, porém, não quando se une à malfadada política!
    A partir deste momento ambas se tornam profanas e sagradas ao mesmo tempo!
    O Congresso Nacional nos demonstrou até onde um religioso eleito para exercer um cargo político também era um reles corrupto; esse corrupto se mostrou à nação brasileira que o dinheiro desviado do povo era sagrado… para ele e sua seita!
    Fico petrificado quando vejo um político que se diz seguidor de sua crença e tem o caradurismo de frequentar o seu estabelecimento religioso, depois de tanta bandalheira feita contra a população e seu país!
    Um sinal evidente que o sagrado e profano estão juntos e ligados intimamente.
    Aliás, a grande maioria das religiões está vinculada aos escândalos de ordem financeira, corrupção, política interna, e busca incessante de doações para aumentar seu patrimônio que, em troca, promete a salvação eterna ao incauto “fiel”.
    A política promete ao eleitor melhor qualidade de vida, progresso, desenvolvimento e serviços a contento, claro, sem nada realizar de concreto, a não ser para o político que conquistou o voto de ingênuos que acreditaram nas suas promessas de campanha.
    Portanto, podemos traçar um paralelo entre ambas sem maiores problemas: a promessa.
    Lógico, a FALSA PROMESSA!
    Preocupa-me este estado de passividade do povo diante dessas duas questões relevantes à vida de qualquer pessoa: a religião e a política.
    Se ambas se fundem de tal modo e atualmente estão tão ligadas entre si no que diz respeito ao dinheiro, definitivamente o sagrado foi abandonado, foi substituído pelo desenvolvimento econômico, pela riqueza que o vil metal pode produzir que, aliás, é o mote principal das igrejas atualmente, ou seja, a pessoa buscar incessantemente o bem material, o progresso, não sem antes deixar a sua contribuição à organização religiosa.
    Qual a diferença entre os impostos que pagamos aos governos municipais, estaduais e federal e o dízimo às igrejas?
    Nenhum.
    Ambas prometem, mais nada.
    Onde está o sagrado tanto numa quanto outra? Não existe, mas o profano está ativo nas duas, e de forma plena, vigorosa, sem deixar dúvidas.
    Nesse aspecto, concordo absolutamente com o título deste tema tão verdadeiro: a sacralização da política e a profanação da religião, pois a política se transformou em fim e, a religião, em um meio de alcançá-la.
    Lamentável que estamos constatando que vence o que a religião sempre pregou contra, isto é, a vaidade, o orgulho, a desonestidade, o falso profeta, ou por acaso um político não é um falso profeta e a mistura da religião com ela (a política) não transforma os seus pastores igualmente em falsos profetas também?
    Vivemos sob a égide da descrença?
    Este é um Novo mundo?
    O homem perdeu de vez o significado de valores e princípios?
    A vida é sinônimo de patrimônio e dinheiro no bolso?
    Os sentimentos foram substítuídos pelo bem estar?
    De fato, está difícil separar o sagrado do profano e vice-versa.
    Mas atualmente é a política que atrai o pensamento das pessoas, manipula seus comportamentos e elabora o caráter de seus participantes. A religião está em nível secundário, haja vista trazer consigo os mesmos métodos de atuação que a política: arrecadação de dinheiro e promessa.

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  12. Olhar o horizonte sem idéias preconcebidas de ponto de chegada, entender a vida como uma obra aberta, um processo inacabado, ir para além de qualquer normatividade teleológica, tais expectativas continuam sendo modernos desafios, ou talvez modernas tradições, sagradas ou profanas.
    Que tenhamos um mundo sem fundamentalismos, de religião ou de ciências!…
    Que as ânsias de glória divina e glória científica não entorpeçam os sentidos e não produzam mais monstros!…
    Que o saber seja generoso, corrosivo e inclusivo ao mesmo tempo!
    Parabéns, Ozaí!…

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