O futuro existe?!

O futuro não nos pertence, mas nos agarramos desesperadamente ao que projetamos. Eis o mistério da condição humana: viver a contradição entre o ser e o vir-a-ser. Da consciência do vir-a-ser nutre-se a esperança, mas também a certeza da impossibilidade. A esperança dá lugar à desesperança.

Mais desesperante é a consciência da impossibilidade de ofertar o futuro, de expressar a anulação das esperanças de outrem. O que esperar de quem se demonstra inábil em nutrir o sonho de um futuro feliz? Como alimentar esperanças se as expectativas do vir-a-ser não encontram correspondência? Como construir o futuro sem compartilhar?

É triste desempenhar o papel de “exterminador do futuro”, causa mortis dos sonhos e desejos projetados! É doloroso saber-se o leitmotiv da insegurança que frustra a promessa de uma caminhada comum. O que esperar de quem só pode oferecer o presente?

A rigor, sempre estamos sós com a nossa própria consciência. Esta é a solidão da qual não podemos fugir! No que diz respeito às relações humanas, há várias formas de estar junto. Quanto maior a exigência e a impossibilidade de caminhar a mesma caminhada, maior o sofrimento e o sentimento de desamparo – ainda que tudo seja projetado para o futuro.

Não obstante, por que a obstinação em pautar a vida em projeções futuras? Se pensarmos bem, o futuro não existe; quando muito é apenas um ideal que projetamos. O futuro nem chega a ser efêmero, mal se compara a uma rosa que desabrocha e fenece no mesmo dia! O não-ser é inerente ao vir-a-ser. Se não podemos garantir a existência no próximo segundo, se não temos o poder de controlar o tempo, por que vivermos com a certeza do amanhã? Por que não concentrar-se no presente?

É da condição humana! O ser humano é grávido de desejos e capaz de sonhar. Só para ele que a esperança tem significado, como também a angústia das decepções e sonhos frustrados. Apenas o humano captura o futuro – ainda que ilusoriamente, mas a ilusão é importante para viver e suportar as agruras da vida.

Assim, não basta o que o presente nos oferta, nos permite – por melhor que seja e por mais que nos faça felizes. Projetamos a felicidade futura, ainda que as projeções tragam em si os riscos inerentes ao viver. De repente, o futuro não parece tão radioso como víamos e surgem no horizonte nuvens carregadas que anunciam tempestade. Então, cobre como uma mortalha o presente. Vivemos o dilema de projetar no futuro as esperanças e, simultaneamente, permitir que tal projeção influencie e comprometa o presente.

Paradoxalmente, o vir-a-ser, ainda que contingente, lança-se com toda força sobre o presente, sem que, necessariamente, realize-se o potencial imaginado. O futuro embute em si o perigo de aniquilar as possibilidades inscritas no tempo presente. É fácil compreender, pois que a vida é um movimento contraditório e não uma imaginária linha evolutiva sempre na direção positiva. Os recuos e derrotas, angústias e frustrações, também constituem o viver.

É paradoxal, mas é da condição humana. É insensato imaginar que a vida se resuma ao pragmatismo de viver o agora, o hoje. O carpe diem também pode se revelar um subterfúgio! É a capacidade de pensar o futuro que nos diferencia dos demais animais. Só nós, humanos, cultivamos o desejo de abraçar o futuro e vivê-lo.

De certa forma, somos prisioneiros do que projetamos para um vir-a-ser que pode revelar-se efêmero e inatingível. Esquecemos que somos seres finitos. Portanto, a única certeza absoluta que o futuro nos reserva é a morte.

Eis a força e a fragilidade das utopias! Eis o cerne da condição humana, o dilema da existência. Na política, assume a forma da contradição entre a necessidade de reformas e a revolução, o ser e o vir-a-ser.

13 comentários sobre “O futuro existe?!

  1. Professor com vai?
    Tenho uma reflexão e uma ação sobre este tema, compartilho e se for possível, falar sobre..
    A vida é mesmo uma revolução permanente. Desde nossa concepção, quando milhões de espermatozoides, do pai de cada um de nós, iniciaram uma viagem em direção ao óvulo fértil de nossa mãe, começa uma odisséia de dimensões múltiplas e intensas.

    A vida criada ao final desta corrida solidária, possível ser feita somente em multidão, é o primeiro retrato de uma organização revolucionária natural. Também é uma demonstração inequívoca que a vida só é possível quando construída e perseguida coletivamente.

    Em nosso dia a dia não damos conta dos processos revolucionários ao nosso redor, os quais a cada instante, transforma as coisas. Perceber a organicidade destas transformações é um desafio que todos temos a oportunidade, se quisermos, de notar e formar idéias, conscientemente, deles fazermos parte.

    Ao tomarmos consciência de nossa realidade e de nossa natureza temos a oportunidade de nos colocarmos como interlocutores desta realidade e a partir daí, felizmente em alguns caso e infelizmente em outros, interferimos com mais ou menos intensidade no próprio processo de transformação.

    Porém esta tomada de consciência também é um processo, natural em sua essência, fazendo parte de nossa natureza humana. Sempre nos coloca em inquietude na busca de sua compreensão. Deixar fluir em nossas entranhas esta capacidade de conhecer, compreender e apreender é exercitar ao máximo nossa liberdade e nossa própria razão de ser.

    No afã de acelerarmos esta odisséia criamos técnicas e métodos, muitas vezes sem muito êxito, para aumentar nossa capacidade de compreender e interagir.

    Deste modo nossas mentes, nossa memória, nosso raciocínio, nossos sentidos, nossa capacidade de pensar, organizar e agir pode ser entendida como um grande “centro”.

    Na verdade somos, cada um e todos juntos, um grande Centro de Organização da Revolução das Coisas.

    Por conta disto em homenagem a todos nós, à nossa natureza e na ousadia de sonhar uma cultura humana mais humanizada, mais fraterna, mais solidária, mais inteligente, mais capaz de garantir sua própria existência no presente e no futuro, criamos um símbolo, um lugar e este texto que demos o nome de “COR das Coisas”.

    Como as coisas estão presentes e ao mesmo tempo podem ser tudo, este lugar terá várias cores, várias atividades, infinitos momentos e grandiosas celebrações da vida e da revolução permanente em nossa natureza humana.

    Grande abraço a todos… mandaremos mais notícias.

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  2. Oi Osaí!
    Bonitas as suas reflexões.
    E bem atuais.
    Tantas mudanças e crises em várias questões pelo mundo afora…
    Acho que mais do que nunca o ser humano se sente um ser incompreendido, incompleto.
    Será que devemos fazer o melhor, sem criar expectativas?
    Pode ser uma saída para mantermos o bom humor.
    Não sei.
    É bem complexo esse assunto, e a percepção depende muito do momento da vida de cada um.
    Abraço,
    Eneida

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  3. Creio que o vir a ser movimenta o mundo hoje em dia.
    Na política os revolucionários distorcem a realidade em prol de um futuro hipotético, condenando o conhecimento real de ordem e abraçando o relativismo moral.
    Muitos religiosos acham que devem promover a justiça na terra para um mundo melhor, mesmo isto sendo impossível.
    Jesus Cristo nos disse para aceitarmos nossa cruz e segui-lo, ou seja, aceitarmos a nossa realidade e ter fé! Fé que ela poderá ser modificada com a ajuda de Jesus.
    Amaldiçoarmos a nossa realidade, o nosso trabalho, as coisas ao nosso redor é amaldiçoar o que temos e que pode nos fortalecer a melhorar.
    Se não somos felizes no hoje, como poderemos ser felizes no amanhã tendo os mesmos comportamentos e pensamentos do hoje?

    A ordem da história é a história da ordem. Eric Voegelin

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  4. Ainda acho menos doloroso, a “não (pré) ocupação” com coisas que ainda não aconteceram.
    Por mais primário que seja….. o presente é a única coisa que temos, de fato, em mãos.
    E que consigamos qualificá-lo…. quem sabe isso possa fazer diferença lá na frente…..

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  5. Antonio
    Cumprimentos
    Os valores ocidentais de maior divulgação trabalham com algumas idéias, as quais estabeleceriam em tese formas de conduta, crenças, ideologias, comportamentos, etc.
    Sabemos obviamente que mesmo no auto denominado Ocidente esses objetivos não são únicos, embora tenham nos Meios de Comunicação Social, Igrejas, Estados, Partidos Políticos, organizações forte respaldo, o que os torna preponderantes e quase que hegemônicos.
    Indiscutivelmente o desenvolvimento industrial, em suas várias fases trouxe novidades e facilidades, as quais, infelizmente não abrangem a todos, mas que são importantes, mas mesmo com toda essa técnica a disposição a valoração do simples, da convivência, da ajuda aos amigos, vizinhos e até dos desconhecidos permanecem.
    Acho que os valores das sociedades primitivas, onde o ter e mesmo o tempo pouco importavam é que continuam a retroceder e com isso estão se perdendo conhecimentos importantes que vem sendo testados e praticados a milhares de anos.
    O Capitalista vê num medicamento paleoamericano fonte de lucro. Os povos originários o viam (e ainda vêem) como forma de ajuda. Como membro da minoria entendo que o fazer do homem em prol do bem comum tem exatamente que se dar no hoje. É nesse momento que a fome graça em vários locais do planeta e isso não deveria estar a esperar pelo amanhã. A distribuição equânime e tecnológica da água também é para ontem e não matéria de especulação. O desarmamento e a conseqüente direcionalização dos recursos para a preservação do planeta já deveria também estar em curso e não aguardando o futuro incerto e não sabido.
    Utopias? Não, possibilidades que alguns ainda insistem em realizar no presente e nesse momento.
    Cordialmente
    Pedro
    Caxias do Sul – RS

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  6. Passado, presente, futuro…falamos sempre do tempo sem entendê-lo.
    Eis um tema explorado por filósofos, físicos, matemáticos, astrônomos, curiosos, desde a Antiguidade até os dias de hoje.
    O filósofo alemão, Immanuel Kant, dizia que: “… o tempo é uma das pré-condições de todo o conhecimento humano; tido como uma categoria a priori.”
    Leibinitz, apregoava: “O tempo é uma sucessão de eventos ligados por uma cadeia de casualidade.”
    Sartre, explicava: “…mas o tempo é grande demais, ele se recusa a se deixar ser preenchido.”
    Palestrantes na área de vendas abordam sistemas de como usar o tempo, pretensiosamente; administradores falam em como organizá-lo, como se fosse possível; banqueiros demonstram a cada balanço anual de suas instituições a arte de ganhar muito dinheiro em tão pouco tempo, pelo menos no Brasil; jogadores de futebol possuem a magia de, em segundos, decidir uma partida e fazer a alegria – ou a tristeza – durar uma eternidade para os torcedores.
    Jorge Luís Borges, dizia que: ” O tempo é a substância da qual sou feito. O tempo é um rio que me leva, Mas eu sou o rio; É um tigre que me despadaça, Mas eu sou o tigre; É o fogo que me consome, Mas eu sou o fogo.”
    Enfim, o que é o tempo ou o futuro?
    Na verdade o tempo é inexorável, inevitável, implacável, irreversível.
    Conosco, seres humanos, o tempo é ainda impiedoso e cruel.
    Se, por um lado, ele se traduz como aquisição de experiência, maturidade, avanço na inteligência, conhecimentos, certezas, convicções, escolhas, coragem, desafios,capacidade, eficiência…pelo outro, acarreta perda de forças, desânimo, indisposições, rugas, pele seca, osteoporose, reumatismos, artrites, tendinites, menopausa, andropausa, esquecimentos, Parkinson, Alzheimer, solidão, abandono, dores, perda de entes queridos, saudades, despedidas da vida,…
    Haja vista o tempo ser indomável e infinitamente mais forte que qualquer ser existente – o tempo por acaso é Deus? – ele se proclama Senhor da Vida do indefeso seu humano (o mote de algumas religiões que prometem a vida eterna não estaria justamente nesta questão que o tempo é absoluto e até mesmo o Deus não pode impedi-lo? Não quero ser herege, longe disso, mas não consta na Bíblia ou qualquer outro livro de importância religiosa que Deus tenha feito o tempo parar alguma vez, ao contrário, criou a tudo e a todos no tempo de seis dias e, no sétimo, descansou).
    Estando o ser humano desprotegido para enfrentar o tempo, este inimigo abominável, o homem se torna refém dos acontecimentos que o tempo irá lhe proporcionar (doenças e dificuldades) e ocasionar (desilusão, desencanto, menos tempo de vida).
    Mensurar este prejuízo físico e mental que o tempo nos exige é impossível (e ainda dizem que existe o inferno?!);
    Dimensionar a extensão das frustrações, fobias, neuroses, em decorrência, seria mera especulação.
    Tentar se estabelecer uma justificativa para o tempo/futuro que conduziu o ser humano para o enfraquecimento e velhice seria o mesmo que definir a dor, todos os tipos de dor, e o que é om tempo, todos os exemplos de ganho e perda de tempo.
    Às vezes eu penso qual seria a definição do tempo pelo morador de rua, do empresário, do padre, do desempregado, do político, dos que moram ou foram abandonados em asilos, dos que pagam aluguel, dos motoristas.
    E os que foram abandonados à própria sorte?
    E às pessoas que foram envolvidas em uma guerra, sejam civis ou soldados?
    O que diria do tempo/futuro um paciente em estado terminal?
    Uma linda mulher?
    Mário Lago, compositor, dizia sobre o tempo: “Fiz um acordo com o tempo: nem ele me persegue, nem eu fujo dele. Um dia a gente se encontra.”
    Quando penso a respeito do meu futuro eu olho o passado que eu poderia ter vivido diferente, que eu reunia condições de realizar mais e, assim, ter sido melhor.
    Ao me ver na terceira idade, 62, verifico estar sendo deficiente em vários aspectos: justamente por não ter sido melhor no passado deixei de construir as bases necessárias que iriam me amparar na velhice/futuro, agora é tarde!
    E uma profunda nostalgia me invade o coração.
    O tempo também não permite retornos na vida.
    Concluo:
    Nós existimos no tempo ou é o tempo que existe em nós?

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    • Caro amigo Francisco
      Gostei da tua reflexão sobre o tempo. Nós podemos existir para sempre no tempo, basta escrevermos as nossas reflexões num papel, ou agora, num computador.
      Existem vários temos em nós, mas, o melhor deles é quando conseguimos amar e ser feliz.

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  7. Caro professor Antônio Ozaí da Silva.
    Nossa cultura e civilização ocidental incorpora a ideia da individualidade, em tudo vemos aquela ideia , ” Se não é Eu por mim , quem será por mim? e se não for agora, quando será? creio que Deus deu o privilégio a humanidade de escolher entre os paradigmas
    do bem ou do mal, cabe a nós escolhermos, e finalmente podemos escolher o paradigma do JUSTO.

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    • ─ Não caírá uma folha de uma árvore se não for pela vontade de Deus. Portanto, o livre arbítrio é uma falácia. Veja ainda o que está escrito em (Matéus 10.29-31) Por isso, não temos o privilégio de escolher coisa nenhuma. Se não for assim, Deus não existe e, se existe ele é responsável por tudo, o bem e mau.

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      • Caro amigo Yusef D’ojuara
        Longe de rebater o teu raciocínio lógico, prefiro lembrar o que disse o grande profeta KAHLIL GIBRAN; ele disse: ” DO BEM QUE HÁ EM VOCÊ EU POSSO FALAR, MAS NÃO DO MAL, POIS O QUE É O MAL SENÃO O BEM TORTURADO POR SUA PRÓPRIA FOME E SEDE ? QUANDO O BEM ESTÁ FAMINTO, PROCURA O ALIMENTO NAS CAVERNAS MAIS ESCURAS, E QUANDO TEM SEDE BEBE DAS ÁGUAS MAIS IMPURAS “

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    • Referente ao que disse o caro Abrahão, a sociedade ocidental ou melhor, as sociedades capitalistas, meramente pensam no outro. Podemos ver o exemplo do nosso país ao qual o individualismo é sem dúvida o principal agente da corrupção e do descaso do povo e do governo com nossa nação. A escolha pelo “justo” é superior à escolha do bem ou do mal.

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      • Caro amigo Alexandre Francisco
        Quanto a censura das sociedades capitalistas, concordo em parte, porque precisamos urgentemente de educação desde a infância, digo, educação de qualidade, como ocorre em outros países ocidentais, e mesmo lá no Oriente Médio, onde qualquer um fala mais de dois idiomas fluentemente. Educação é a base de tudo na vida. Quanto a corrupção, devemos sempre lembrar que a justiça sempre vence o mal. Devemos lembrar também que num estado democrático de direito não há que se falar em fragilidade do capitalismo. O capitalismo é uma forma perfeita , se coaduna com os espírito humano que quer progresso, quer melhorar a sua condição humana, e isso o capitalismo moderno pode e deve seguir abrindo fronteiras e beneficiando a humanidade. Volto a dizer, educação é tudo, é o grande capital que podemos deixar para nossos filhos .

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